Voar, você me disse... Voar foi o que eu fiz. Tuas mãos foram meu porto seguro, local onde pude repousar e reconfortar minha alma de andarilho, já desgastada pelo tempo. A simples promessa de vida fez-me encher os pulmões de alegria e cantar para os ventos do presente a tua melodia.
Minha chegada foi vista com esperança e zelo, minhas atitudes foram inocentes e puras... Então deitei em tua mão e cochilei. Nos dias que sucederam, fizeste uma casa onde eu pude repousar seguro e sempre próximo, da qual toda manhã vinhas desfrutar de minha canção e sorrias como retribuição. Tudo estava simples.
E ai o inverno veio...
As folhas caíram e o sol se esconde; o frio agora bate a minha porta e busco abrigo de volta para o calor de teu corpo, mas não me reconheces mais... Teus olhos agora já não brilham com a minha música, seu sorriso já não me aquece e suas mãos já não me tocam a pele.
Sozinho, recolho-me no velho abrigo de memorias e sonhos que construímos em um único dia... E nele aguardo atento pela volta do verão, mas este não veio. Minhas asas congelam impossibilitando-me de me mover novamente, meu folego já não é suficiente para um novo voo.
Não há mais o que fazer... Apenas deitar e morrer.